Vale terá executivo de mercado, diz Temer
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O presidente Michel Temer não vai interferir na troca de comando da Vale, prevista para maio, quando termina o atual contrato, de dois anos, de Murilo Ferreira. Em reunião na terça-feira na capital federal com os presidentes do Bradesco e do Banco do Brasil, Temer garantiu que a escolha do novo executivo para o comando da mineradora não terá ingerência política e a decisão vai considerar critérios de mercado.
O teor da conversa, que sacramentou o aval do governo aos principais acionistas Vale para definirem a escolha do novo comandante, foi relatada pelo presidente da República ao vice-governador de Minas Gerais, Antônio Andrade, em entrevista ao Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor.
Andrade – ex-ministro da Agricultura no governo de Dilma Rousseff (PT) – é também o atual presidente do PMDB mineiro. O partido desde o ano passado fazia gestões para a substituição do presidente da Vale, principalmente depois do desastre ambiental em barragem da Samarco, empresa controlada da Vale em Mariana (MG). Recentemente, o senador Aécio Neves (PSDB de Minas) também entrou na disputa para influenciar na troca de Ferreira, conforme relatou reportagem do Valor nesta semana.
“O presidente Temer disse que chegou a cogitar que a bancada do PMDB e o Aécio poderiam se juntar para indicar alguém. Mas disse que conversou com o Trabuco [Luiz Carlos, presidente do Bradesco) e com o Caffarelli (Paulo Rogério, presidente do BB) e disse: ‘resolvi que vamos indicar um homem de mercado'”, relatou Andrade. Segundo ele, Temer afirmou nunca ter tratado do assunto com o senador tucano.
O Bradesco, por meio de sua companhia de investimentos, a Bradespar, faz parte do bloco de controle da Vale, com participação de 21% das ações com direito a voto da Valepar, holding que tem o controle da mineradora. A Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, integra, juntamente com outros fundos (Funcef e Petros), a Litel – veículo que tem 49% da Valepar.
Outros dois acionistas que integram o acordo de acionistas da companhia são a japonesa Mitsui, com 18%, e o BNDES, com 11%.
“Na conversa que eu tive com o presidente Temer, ele disse que a Vale vai ter um presidente que será uma pessoa de mercado. Não vai ser indicação nem do Aécio nem indicação do PMDB”, contou Andrade. “Ele disse que a Vale tem ações em bolsas no exterior e que tem que ser um homem de mercado”, declarou o vice-governador mineiro. Ele disse ter conversado com o presidente da República na quarta-feira à tarde.
“Pela conversa com o presidente Temer, me pareceu que o Murilo vai sair. Se ele está falando em indicar um nome de mercado, entendi que vai ser outra pessoa”, disse o vice-governador, observando que Temer, entretanto, não chegou a declarar que já está definida a saída do executivo. Porém, o Valor apurou que essa tarefa ficou delegada aos acionistas controladores, com Previ à frente por ser a principal sócia e ter a presidência do conselho de administração da Vale. Assim, não deve ser renovado o contrato de Ferreira, que vence no início de maio. Ele está no cargo desde 2011.
Outro fator que reforça a mudança de comando é a renovação do acordo de acionistas, em vigor desde maior de 1997, data da privatização. Segundo uma fonte a par do processo – já em estágio final -, em uma nova estrutura societária, que deixará a empresa mais leve, é natural que se busque uma nova estrutura de gestão.
As negociações entre Previ, Bradesco, Mitsui e BNDES começaram em meados do ano passado. Um dos caminhos, conforme noticiou o Valor recentemente, é um acordo com duração de até seis anos. Além disso, foi discutida a migração das atuais ações preferenciais e ordinárias da empresa para um único tipo – ordinárias com direito a voto. O prazo mais curto e a unificação dos papéis são o cenário mais provável.
O acordo deve refletir a busca por aperfeiçoamentos na governança da Vale. Para isso, foi contratada consultoria especializada.
Bradesco e Previ não se manifestaram sobre as mudanças na Vale.
17/02/2017 – Valor Econômico