Só regra estável atrai investimentos em infraestrutura, diz Scheinkman
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O momento atual, em que os juros no mercado externo estão baixos, se apresenta como uma oportunidade para que o Brasil invista em infraestrutura e melhore sua produtividade, dois grandes gargalos para o desenvolvimento do país. Mas para aproveitar esse momento, o país precisa criar regras estáveis para a atração de capitais. A análise é do economista José Alexandre Scheinkman, da Universidade de Princeton, nos EUA.
O Brasil vive dois extremos em termos de produtividade, diz o economista. De um lado, apesar da infraestrutura deficiente e de um ambiente legal inadequado, a agricultura brasileira cresceu mais rápido do que a sua concorrente nos EUA nas últimas duas décadas (1990-2009). O desempenho é explicado pelo investimento em pesquisa e desenvolvimento (P&D), pelos ganhos de escala e pelo fato de o setor estar exposto a um mercado global competitivo.
Em contrapartida, na indústria de transformação a produtividade do trabalho piorou mais de 1% ao ano no Brasil no mesmo período. A análise considera como parâmetro a chamada Produtividade Total dos Fatores (PTF), conceito que leva em conta quanto se produz com uma quantidade fixa de fatores como capital e trabalho.
“Uma das lições da agricultura é que pode se ter muito progresso resolvendo alguns e não todos os problemas”, diz Scheinkman. Ele diz que o Brasil deveria pensar por que a experiência de P&D da agricultura, via Embrapa, não foi repetida em outros setores da economia. Se o Brasil quiser obter ganhos de produtividade, afirma, é preciso garantir arcabouço legal e regulatório melhor e fazer mais P&D. A pouca integração do país à economia mundial e a carência na infraestrutura também pesam.
Para Marcos Lisboa, do Insper, a agricultura é um setor em que, ao contrário da indústria, a política pública estimulou a inovação tecnológica. “Não se protegeu os ineficientes e os subsídios foram horizontais [não selecionaram ‘vencedores’ e deixaram as empresas ineficientes quebrar]”, diz Lisboa.
Para Scheinkman, ao invés de avançar em direção à fronteira da produtividade, como fizeram países como Coreia do Sul, Taiwan e Cingapura, o Brasil se distancia dessa fronteira. “Se olhar o desenvolvimento desses três países no último quarto do século XX, uma das coisas que explicam o desempenho deles é que investiram mais em infraestrutura do que a América Latina”, diz Scheinkman. A China também parece estar nessa trajetória de se aproximar da fronteira da produtividade, afirma.
Ao fazer uma apresentação sobre o “desafio da produtividade” no BNDES, Scheinkman disse que é “absurdo” pensar que o Brasil está fadado a crescer às mesmas taxas dos grandes países desenvolvidos (EUA, Alemanha, Japão e França) e continuar a produzir um quarto ou um quinto por trabalhador em relação a esses países. Indicou que o Brasil tem uma força de trabalho pouco educada, estoque de capital inadequado, resultante de uma taxa baixa de investimentos, e usa de forma ineficiente o estoque de capital e trabalho.
Tendo como pano de fundo a tentativa do governo Michel Temer de lançar novas concessões de infraestrutura, Scheinkman afirma que esse é um investimento que gera a chamada “externalidade”. Significa que quem usa infraestrutura adequada aumenta sua produtividade. Ele diz que o momento é bom para investir no setor.
“É mais barato fazer infraestrutura hoje do que quando os países asiáticos fizeram, porque as taxas de juros [no mercado internacional] estão mais baixas.” Mas reconhece que é preciso criar um arcabouço regulatório que atraia capitais. “Os capitais virão desde que tenham segurança de que as regras serão estáveis”, afirma.
Para Lisboa, a segurança jurídica é um primeiro passo para garantir investimentos de longo prazo no Brasil. “Precisamos entender que será longa a trajetória para reconstruir a credibilidade”, diz Lisboa. Ele avalia que há hoje um cenário externo favorável ao Brasil, marcado pelo baixo crescimento da economia mundial e por juros também baixos. “Temos uma janela de oportunidade bastante favorável. São só nossas dificuldades internas que podem tornar mais difícil aproveitar esse momento.”
Fonte – Valor Econômico