Para Moreira Franco, Temer tem que alinhar o PMDB aos planos do governo
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O presidente Michel Temer deve chamar as bancadas do PMDB para “definir regras de alinhamento” em relação aos projetos do governo, com foco nos que dizem respeito ao teto para o gasto público, à reforma da Previdência e à flexibilização da legislação trabalhista. A proposta é do secretário-executivo do Programa de Parcerias de Investimento (PPI), Wellington Moreira Franco, um dos mais próximos amigos e conselheiros do presidente da República. Não se trata de enquadrar nem impor nada ao partido, segundo afirmou, mas de estabelecer um entendimento sobre a agenda do governo e evitar “surpresas” como a votação que tirou a ex-presidente Dilma Rousseff do cargo, mas manteve seus direitos políticos intocados.
“O que eu creio que o presidente Temer vai procurar construir com nossos companheiros, tanto do Senado quanto da Câmara, é uma relação em que nós vamos formar maioria, as questões serão discutidas, e ninguém vai surpreender ninguém”, disse.
O receio de Moreira Franco é que a divisão do PMDB seja entendida pelos aliados como falta de compromisso do partido com o ajuste, o que comprometeria a aprovação do pacote fiscal.
“Nós vamos ter que começar a rediscutir essa coisa que chamam de presidencialismo de coalizão que é baseado na negociação de espaço e não da negociação política”, disse. “Esse é um modelo falido”. Franco aponta, como exemplo, o que aconteceu com o PT na gestão Dilma, que foi “várias vezes surpreendida pelo PT, até mais que pelos aliados”.
Em entrevista recente, o presidente do PSDB, senador Aécio Neves, afirmou que Temer deveria fazer “uma DR” com o PMDB – ou seja, discutir a relação interna. Os tucanos têm demonstrado incômodo com a ambiguidade do partido e do governo em relação às reformas e não raro insinuam que podem romper. “Sem o apoio do PSDB, não existirá governo Temer”, cobrou Aécio, em entrevista ao jornal “O Globo”. Moreira Franco vê procedência na crítica. Seu temor é que a divisão do PMDB – e dos aliados, em consequência – comprometa a votação do pacote de ajuste, que na prática significaria o comprometimento do futuro dos dois anos de governo Temer.
“O presidente Temer só tem um caminho, uma bandeira, uma maneira de entrar para a história: encaminhar a solução da crise econômica. E a crise econômica é fiscal. Por isso o esforço de se aprovar a emenda constitucional do teto é fundamental”. Segundo Moreira Franco, o entendimento interno do PMDB deve privilegiar a conversa, a negociação e o convencimento, algo que faz parte do que ele chama de “DNA do partido”. O secretário-executivo do PPI defende ser esta a primeira vez que o PMDB efetivamente assume o governo federal, após a redemocratização. “Quando o [José] Sarney [1985-1990] entrou, tinha acabado de ingressar no PMDB não por convicção, mas por uma aliança eleitoral [para ser vice de Tancredo Neves]; o Itamar [Franco] à época [1992-1994] não estava no PMDB, estava sem partido. Só voltou ao partido depois para ser candidato a governador de Minas Gerais”. Temer não só é militante do PMDB como há cerca de 15 anos dirige o partido.
“Nessas circunstâncias, nós devemos ter um comportamento que dê segurança e clareza de posições, a favor ou contra, e sem imposições definir um caminho, com tempo suficiente para cada um tomar sua posição, para ninguém ser surpreendido, ou então os aliados vão ficar inseguros e vão querer também fazer pior, e é natural que assim seja”, disse. “Tem que discutir isso, porque não dá. Esse é um modelo falido. Foi ele que nos levou a essa situação partidária que nos obriga a olhar com perplexidade e apreensão para uma eleição que vai ocorrer daqui a um mês. A gente não sabe o que vai vir dela”.
Franco acha que o governo subestimou a versão de “golpe” que a oposição pregou no impeachment da presidente da República. “Isso foi culpa de uma certa leniência política nossa, até uma certa soberba”, afirmou. “Era uma coisa tão absurda, tão sem sentido, tão frágil dos pontos de vista constitucional, institucional, da própria doutrina em teoria política, que achou-se que não pegaria, seria um mero bater de tambores”. Enganou-se. “Hoje esse é um problema grave que nós temos que enfrentar para que a sociedade brasileira não se esqueça do que é golpe, que não confunda golpe com isso que estão dizendo que é golpe. Golpe é violência, quebra da ordem constitucional, censura, prisão.”
“Hoje está se querendo criar no país um ambiente de intolerância maior que na ditadura, e nós não podemos, o presidente Temer, que nos lidera, não pode nos deixar cair nesta armadilha”, disse. “Se cairmos na armadilha da intransigência, da intolerância, da violência verbal nós não vamos conseguir ambiente para resolver a crise econômica do país”. Para Moreira Franco o governo deve ser duro no combate à tese do golpe, mas o presidente Temer, “além de ser uma pessoa obstinada na solução do problema econômico, tem que liderar o esforço de pacificação, de unificação de quebra deste ambiente de intolerância”. O secretário defende que Temer procure o diálogo com a oposição.
Na opinião de Moreira Franco a legitimidade de Temer na Presidência deixará de ser questionada quando o problema econômico for encaminhado. “O presidente está sendo convocado dentro do quadro institucional brasileiro para resolver a crise econômica. Ele terá legitimidade quando as pessoas perceberem que ele está na rota certa”, disse. “Se não andar nessa rota, não vai ter legitimidade não. As medidas que têm que ser tomadas não são duras, impopulares e ruins. São as possíveis, as necessárias”.
Fonte – Valor Econômico